TOLERÂNCIA
CONCEITO - A indulgência, a condescendência em relação a
outrem, seja de referência às suas opiniões ou comportamento, ao direito de
crer no que lhe aprouver, pautando as suas atitudes nas linhas que lhe pareçam
mais compatíveis ao modo de ser, desde que não firam os sentimentos alheios,
nem atentem contra as regras da dignidade humana ou do Estado, constitui a
tolerância. Apanágio das almas nobres, medra em clima de elevada cultura e de
sentimentos superiores, espraiando-se nas comunidades onde o progresso forja a
dignidade e combate o obscurantismo, a tolerância é medida de enobrecimento a
revelar valores morais e ascendência espiritual. Onde quer que um homem ou um
povo lute pelas expressões da liberdade e da verdade, logo a tolerância se faz
o florete com que esgrime na defesa das suas aspirações. Enfloresce no estóico
e frutesce no santo. Sempre que triunfa, ao seu lado fenecem o fanatismo e a
perseguição de qualquer matiz, ensejando campo para o entendimento pacífico, no
qual os homens se revelam sem peias coarctadoras, sucumbindo sob os escombros
das manobras infelizes que promovem. Nem sempre compreendida, porque adversária
da tirania e opositora da prepotência, é malevolamente confundida com a
indiferença ou a cobardia moral. Supõem-na, os árbitros da arrogância, como
acomodação conivente ou submissão servil, contra o que se rebelam, por exigirem
subserviência total e desfalecimento das aspirações nobres naqueles que os
devem atender. A tolerância, porém, jamais conive; antes oferece-se aos que a
estimam e a exercitam com altos critérios de renovação íntima, paciência,
humildade e coragem. Não se impondo, expõe com perseverança e conquista pela
lógica da razão, auxiliando no amadurecimento do interlocutor ou do adversário
que se lhe opõe, sem azedume ou precipitação. A muitos compraz vencer, esmagar,
sobressair, embora os métodos infelizes impetrados e os ódios gerados. E vencer
é tarefa de fácil consecução, desde que se pretenda triunfar sobre os outros.
Multiplicam-se métodos da hediondez e da pusilanimidade, desde os que destroem
o corpo aos que dilaceram a alma. A urgente tarefa a que todos se devem atirar
é a de vencer-se a si mesmo, sublimando as más tendências e mantendo vitória
sobre as inclinações negativas e as paixões subalternas do espírito enfermo. A
tolerância, pela argumentação em que se firma, convence quanto à necessidade de
respeitar-se e amar-se, concedendo-se ao próximo o direito de fruir e
experimentar tudo quanto se deseja para si próprio. Manifesta-se invariavelmente
como boa disposição, mesmo em relação às ideias e pessoas que não são gradas.
Acima da conivência, expressa segurança de opinião e firmeza de proceder.
CONSIDERAÇÕES
- Raramente a História revela a presença da tolerância nos
seus fastos. Sempre dominou a imposição política, filosófica e religiosa,
através da qual pequenas minorias tidas como privilegiadas exigiram total
subordinação aos seus postulados, raramente salutares ou benéficos para a
coletividade. A seu turno, a intolerância, que se alia à covardia, foi a grande
fomentadora de mártires e supliciados, nos múltiplos setores da vida, fazendo
que irrigassem com o seu sangue as plântulas dos formosos ideais de que se
fizeram apóstolos. No que se refere ao tolerantismo, a predominância da Igreja
Católica, na Europa Meridional, durante toda a Idade Média, se impunha,
impedindo qualquer liberdade de culto e exigindo ao poder civil a aplicação de
medidas legais aos que considerava heréticos, culminando, normalmente, tais
conchavos, na punição capital da vítima. Com a Reforma surgiram os prodromes de
um tolerantismo por parte do Estado, que desapareceria ao irromper das
imposições do Protestantismo, repetindo os mesmos erros do Clero romano, no que
redundaram a Contra-reforma e as lamentáveis guerras de religião dos séculos
XVI e XVII, cujos lampejos infelizes vezes que outras reacendem labaredas
destruidoras. A John Locke, o pai do Empirismo, deve-se a Carta sobre a
Tolerância, iniciada em 1689, através da qual muitos pensadores se insurgiram,
seguindo-lhe o exemplo, contra a ortodoxia religiosa. Posteriormente os
enciclopedistas se rebelaram, preconizando o tolerantismo a nascer e fomentar a
tríade que serviria de base para a Revolução Francesa de 1789, que, no entanto,
descambou, igualmente, para a intolerância, a perseguição e os crimes contra os
"direitos humanos", apesar de os haver gerado na madre dos ideais
eloquentes das horas primeiras. O século XIX dilatou o conceito da tolerância,
embora as lutas de opinião entre liberais e conservadores que, em controvérsias
contínuas, pugnavam, os primeiros, pelo réspeito às opiniões alheias, e os
segundos, pela obediência como respeito às ideias políticas e religiosas
predominantes. A pouco e pouco, à medida que o homem emerge da ignorância e
sonha com o Infinito que o abraça, a tolerância atende-lhe a sede de
crescimento e a ânsia de evolução.
CONCLUSÃO
- Havendo surgido a Codificação do Espiritismo no meado do
século XIX, quando a Religião Católica, em França, fazia parte do Estado e se
impunha dominadora, os Espíritos Excelsos, pontificando nas leis de amor,
fizeram que Allan Kardec estabelecesse como um dos postulados relevantes a
tolerância, na qual a caridade haure sua limpidez e grandeza para ser a virtude
por excelência. Tolerância, pois, sempre, porquanto, através dos seus ensinos,
a fraternidade distende braços, enlaçando cordialmente toda a família humana.
ESTUDO E MEDITAÇÃO:
"Que se deve
pensar dos que abusam da superioridade de suas posições sociais, para, em
proveito próprio, oprimir os fracos?
"Merecem
anátema! Ai deles! Serão, a seu turno, oprimidos: renascerão numa existência em
que terão de sofrer tudo o que tiverem feito sofrer aos outros." (O Livro
dos Espíritos, Allan Kardec, questão 807.) " DA LEI DE IGUALDADE
“Sustentai os fortes: animai-os à perseverança. Fortalecei
os fracos, mostrando-lhes a bondade de Deus, que leva em conta o menor
arrependimento; mostrai a todos o anjo do arrependimento estendendo suas
brancas asas sobre as faltas dos humanos e velando-as assim aos olhares daquele
que não pode tolerar o que é impuro. Compreendei todos a misericórdia infinita
de vosso Pai e não esqueçais nunca de lhe dizer, pelos pensamentos, mas,
sobretudo, pelos atos: "Perdoai as nossas ofensas, como perdoamos aos que
nos hão ofendido." Compreendei bem o valor destas sublimes palavras, nas
quais não somente a letra é admirável, mas principalmente o ensino que ela
veste." (O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec, cap. X,Bem
aventurados os que são misericórdiosos item 17.)
(psicografia Divaldo Pereira Franco - espírito Joanna de
Ângelis).